ENTREVISTA (RUBEM ALVES)
Ir a uma sala de aula não basta para modificar comportamentos.Para transmitir ética,responsabilidade social,inovação e ideias de sustentabilidade a empregados,não é suficiente investir em cursos e treinamentos tradicionais.O segredo para sensibilizar é despertar os sentidos.O defensor da tese é o escritor,filósofo,psicanalista e ex-professor da Universidade Estadual de Campinas,Rubem Alves."Valores não se ensinam em sala de aula"justifica.
a opção pela educação heterodoxa deve alcançar a educação corporativa,afirma Alves."carregamos uma caixa na mão direita, a mão da destreza, em que guardamos as ferramentas,ou,seja,tudo o que é útil:fogão,faca,ideias,teorias-ferramentas essenciais para o desenvolvimento pessoal.Na mão esquerda, a mão do coração,levamos uma caixa de brinquedos,que não servem para nada,mas nos trazem alegria,assim como poesia,música,valores,ética-a base da formatação do nosso caráter",explica.
Para tornar a sustentabilidade tangível para funcionários,a ponto de influenciá-los no dia a dia,é preciso propiciar experiências afetivas, trabalhar com valores estéticos e lúdicos.Preparar só "a mão direita" dos trabalhadores seria o mesmo que ensinar know-how sem noção de valor sobre seu uso,como diz o economista E.F.Schumacher no livro Small is beautiful.Algo que pode até ser perigoso.
Para Alves,as empresas têm o poder a seu favor,podendo utilizar-se dele para formar o público interno.Educar adultos é tarefa complexa, que necessita de uma metodologia diferenciada, uma vez que os parâmetros são novos e não integraram a formação regular da educação básica."O adulto só aprende se quiser",afirma:"Você tem que criar situações em que as pessoas se exponham a valores afetivos; educar os sentidos, o olhar,o nariz, o ouvido, o silêncio e o tato."
O primeiro passo é propiciar espaços para o diálogo dentro da empresa, criando momentos que permitam troca de ideias e experiências, valorizando a cultura dos indivíduos.Onde há troca,intercâmbio,conversa,estímulos para reflexão e informações circulando, produz-se inteligência.Entre as sugestões do especialista está a criação de oficinas de leitura,a prática de visitas externas, as experiências de contato direto com a natureza e até momentos musicais.
A valorização sensitiva não é novidade para executivos.Muitas empresas já a adotam no desenvolvimento pessoal na alta gestão, mas falta descer à base.Apaixonado pelo cinema,Alves ilustra a evolução da educação corporativa com outra imagem."A cena interpretada por Charlie Chaplin no filme tempos modernos, do operário engolido pelas engrenagens da fábrica,é coisa do passado.Nas empresas modernas já existe preocupação sobre o que será deixado para nossos descendentes.Do contrário, o mundo dos nossos filhos será muito triste."
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